Publicado no Agrianual 2008
Huanglongbing (HLB) popularmente conhedida como Greening é a doença mais devastadora dos citros no mundo. Seu agente causal é a bacteria Candidatus liberibacter sp, que afeta os vasos do floema da planta causando sintomas devido ao entupimento destes vasos. O vetor da doença é o inseto Diaphorina citri ou psilidio (pop.). Ao redor do mundo os prejuizos desta doença sistêmica ultrapassam 60 milhoes de plantas doentes e erradicadas (numero maior que o inventário de plantas da citricultura da Florida). A doença já vem afetando pomares ha decadas na Asia e Africa, porem só conseguiu atingir o continente americano ha poucos anos atrás. Em São Paulo foi contatada em 2004, e na Florida em 2005.
Como ainda não existe cura para o problema, desde então as autoridades e lideranças do setor vêm tentando concientizar o citricultor da importancia do contínuo manejo de controle da doença para mante-la em níveis baixos e consequentemente pomares economicamente viáveis.
A doença foi primeiramente constatada na região de Araraquara, e desde então tem se espalhado a partir deste epicentro como uma onda gigante, ou ‘’tsunami’’. A comparação do avanço da doença como uma onda devastadora auxilia entender como poderá ser os prejuízos à medida que se distancia do epicentro. Nas regiões mais próximas não houve tempo suficiente para a maioria dos citricultores colocarem em prática o manejo adequado, trazendo enormes prejuízos e erradicação de alguns pomares por completo. Neste avanço da doença as areas mais distantes do epicentro poderão ter uma maior chance de sobrevivencia, como se a onda fosse perdendo sua força, desde que todos os citricultores iniciem o manejo adequado o mais breve possível. Para estas areas aida há tempo para se tomar atitude em relação ao manejo.
À luz do cohecimento atual, o manejo da doença consiste basicamente em tres fundamentos; plantio de mudas sadias produzidas em ambiente protegido com tela antiafidica, controle do vetor da doença com inseticidas, e a erradicação imediata de plantas sintomáticas. Para a erradicação contínua é necessário a realização de inspeções frequentes, se possível mensalmente. Esta frequencia recomendada basea-se no fato que nossas atuais inspeções não são eficientes como se pensa (em média 50% das plantas sintomaticas são encontradas na inspeção), e que além disso, os sintomas só aparecerem entre 6 meses e 18 meses da infecção, portanto sempre haverá no pomar plantas doentes sintomaticas e assintomáticas (sem sintomas) mesmo com manejo adequado. No entanto, o importante é manter a incidencia da doença em níveis baixos. O manejo adequado de pomares ao lado de outros sem o correto manejo não é suficiente para manter o pomar sustentável econômicamente por muito tempo (Fig.1). A razão para isso é a alta pressão da população de psilidios infectivos que sào carregados pelo vento tendo como origem o pomar do mau vizinho. Daí a importancia de todos os citricultores de uma mesma região estarem concientes da necessidade de se manter um manejo adequado, e tomarem iniciativa para preserva-los e não ameaçar o pomar do vizinho.
Após a constatação desta ameaça nos pomares de São Paulo e da Flórida, um grande esforço vem sendo realizado a nivel de pesquisas na tentativa de solucionar o problema. Uma linha de pesquisas em que se deposita muita esperança é a transgenia, ou seja, a busca por variedades resitentes ou tolerantes à doença, porem , talvez nao haja tempo suficiente até que se consiga resultados consistentes. Até lá, urge concientizar todos os envolvidos do setor da necessidade de se realizar o manejo adequado, hoje exaustivamente recomendado pelos técnicos e consultores.
Uma das mudanças importantes no meio produtivo é o aumento dos custos advindos do manejo da doença; como inspecoes mensais de plantas sintomáticas, erradicacao e possiveis replantios, inspecoes e controle do vetor com inseticidas. Para se ter uma ideia, os cutos advindos do manejo correto e racional da doença podem custar ao citricultor, com produção média de 800 caixas por hectare, algo em torno de R$0,60 a R$0,80 por caixa peso de laranjas. Diante da elevação dos custos de produção que a citricultlura já vem sofrendo, alguns citricultores deixam de tomar iniciativas de controle, colocando em risco seus investimentos e de seus vizinhos. Não podemos esquecer que no passado os custos de controle da pinta preta também foi uma grande preocupação, mas acabou sendo incorporado no custo total em muitas regiões. Então, nao se trata de custos apenas, mas sim da preservação do patrimonio e sustentabilidade economica do negocio.
Após a passagem da ‘’tsunami’’ talvez tenhamos uma nova citricultura ou uma forma de produçao totalmente diferente daquilo tudo que aprendemos até hoje. Estes meios de producao devem atender a necessidade de se atenuar a pressão do vetor e conseguentemente da doença, entre os quais podemos citar; pomares mais distantes de areas contaminadas, pomares mais adensados, com cerca-vivas, inspeções mais eficientes e mais frequentes (no mínimo mensais), erradicação imediata de plantas sintomaticas, inspeçõees frequentes do vetor, controle racional com inseticidas baseado em índice de controle preservando inimigos naturias, replantio quando for o caso, estratégias de irrigação e de nutrição buscando sincronia nos surtos de vegetação, variedades e porta-enxertos especificos, maior parcelamento dos fertilizantes, redução do uso de herbicidas, aumento de materia organica no solo, e etc. Devemos repensar nossos paradigmas de producao e pensar holisticamente na nova citricultura pós ‘’tsunami’’. A citricultura não acabará pois seu produto é nobre e considerado valioso pela sociedade para a saúde humana. O prejuizo pode ser grande para alguns, mas aqueles que conseguirem sobrevier poderá colher novos frutos e mais valorizados no futuro. É imperativo que se tome atitude em relação à esta grande ameaça.
Eng Agr Gilberto Tozatti
GCONCI-SaniCitrus
tozatti@gconci.com.br